Agostinho como mentor
O texto a seguir foi originalmente escrito em 08/01/2013
São pouco mais de trezentas páginas dedicadas a uma investigação do papel do mentor até os dias de Agostinho de Hipona. De acordo com o site oficial do próprio autor – www.edsmither.com - trata-se de um livro escrito por um Ministro – ordenado – Batista; fato que chama a atenção, uma vez que o livro acaba por se transformar, ainda que de maneira velada, em um elogio ao episcopado. Ainda segundo o site e também de acordo com o próprio livro, Edward L. Smither tem um currículo invejável e muito apropriado para quem resolveu revisitar a história do episcopado experimentado/desenvolvido pelos
pais da igreja.
A experiência de professor e pesquisador certamente ajudou Smither a redigir um livro de fácil leitura e compreensão. Acredito que a tradução de Odair Olivetti também contribuiu para a qualidade da prosa, ainda que não possa afirmar com certeza, já que não tive acesso ao original. Senti, no entanto, falta de um índice onomástico, mais apropriado para a envergadura da obra; o índice remissivo existente é pobre e merece uma revisão.
Os capítulos um e dois perfazem metade da obra. Suponho que a faceta de historiador foi determinante para que Smither dedicasse os dois primeiros capítulos ao desenvolvimento histórico da função do mentor no cristianismo dos primeiros séculos. Cipriano de Cartago é a primeira figura histórica da igreja a ser mencionada e analisada no capítulo 2, e é justo dizer que Smither demonstra muita habilidade em tecer uma teia de fatos e personagens até chegar a Agostinho de Hipona, capítulos mais tarde. Somente os capítulos quatro e cinco tratam propriamente da pessoa de Agostinho; mas não nos enganemos, o capítulo quatro é o mais longo de todo o livro e somado ao capítulo cinco oferece uma visão acurada da personagem protagonista do livro, a saber, Agostinho como mentor. Smither não titubeia em relembrar o leitor – sempre que julga necessário – acerca do que já escreveu em capítulos anteriores, mas faz isto com muita habilidade, sem tornar a leitura enfadonha.
O prefácio e o epílogo são do próprio autor. O epílogo resume bem a visão de Smither acerca do tema outrora mastigado minuciosamente e serviu como oportunidade de dizer de forma direta ao leitor o que ele sugerira sutil e elegantemente ao longo de todo o livro.
Como episcopal, fiquei tomado de profundo prazer com o que li e recomendaria a qualquer outro episcopal a leitura. Também arriscaria dizer que finalmente encontrei boa literatura sobre o papel do bispo e sugiro, sem receio ou reservas, o livro a qualquer cristão que esteja interessado em redescobrir as raízes das práticas episcopais.
Rev. Moacir Gabriel